quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Inserção na Prática da Escola Quilombola Antônio Delfino Pereira: Primeiros Passos

Alunos e alunas do 1º Ano "A" e "B" assistindo o filme do "Kiriku e a Feiticeira".

Em resposta as ações delineadas no projeto Semeando Ancestralidade em Escolas Quilombolas, estamos a realizar, juntamente com professora Maria de Lourdes Silva da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul uma inserção na prática da Escola Estadual Antônio Delfino Pereira, localizada no Quilombo urbano de Tia Eva, onde o tema central da abordagem vem em consonância aos termos de uma escola de tempo integral com caráter de autoria.
Nossa ação está prevista para ser realizada todas as quartas-feiras, no período de 18 de Outubro até 13 de Dezembro de 2017, das 8 às 14 horas com as duas turmas de 1º Ano do Ensino Fundamental, totalizando 42 alunas e alunos.
As referidas atividades, inserções e intervenções nos dão a possibilidade de contar e recontar histórias infantis, lendas e contos de matriz africana e afro-brasileira, dessa forma também permitir a valorização de saberes ancestrais e assim contribuir com a Educação das Relações Étnico-Raciais como determina a Lei 10.369/2003 e como orienta o parecer 003/2004.
Vale destacar também que as atividades planejadas pela equipe do projeto, estão em dialogo com o conteúdo que a escola já irá priorizar nesse 4º bimestre letivo, que são as Histórias Infantis e Lendas, no intuito de mostrar que é viável trabalhar todo esse resgate da ancestralidade tão importante no contexto da escola quilombola, no dia-a-dia das alunas e dos alunos.

Por Drª Maria de Loudes Silva e Agnes Duailibi

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

"Rogai por nós quilombolas": Festa de Nossa Senhora Aparecida em Furnas do Dionísio


O ano de 2017 no calendário cristão assiste aos 300 anos do aparecimento da imagem que tornar-se-á a mãe de devoção católica. No Brasil, o culto de Nossa Senhora Aparecida exerce forte comoção dos católicos nos espaços perpendiculares do território sagrado. É ela a senhora que intercede pelos filhos nas dificuldades, principalmente vagando no coração popular.

Aparecida é a mais adorada no panteão católico brasileiro. É popular no sentido que habita o povo, para isso enegrecendo-se para ter semelhança com a maioria dos brasileiros. Esse processo é amplamente refletido por Lourival dos Santos (SANTOS, O enegrecimento da Padroeira do Brasil:
religião, racismo e identidade, 2013).

O culto de Nossa Senhora ganha dimensão extraordinária em meio a comunidade de Furnas do Dionísio e passa delimitar a ideia de identidade quilombola. Não é um processo de se surpreender, pois o enegrecimento da padroeira acontece no período histórico que antecede a formação das comunidades juridicamente remanescentes quilombolas. Há um bom motivo para o quilombola escolher Nossa Senhora Aparecida, pois o processo da santa para manter-se negra remonta a trajetória de luta identitária que mantém o quilombo vivo e pulsante.


Há mais de 30 anos, a família da Dona Dete mantém a celebração de Aparecida acontecendo na comunidade Furnas do Dionísio. É uma festividade que consegue centralizar o catolicismo popular em pequeno espaço rural, cuja a identidade quilombola e irmandade católica materializa-se na preparação da celebração. 

 Preparar o doce é uma atividade feminina entre a comunidade. Ali, vem da mulher o ato de adocicar a fruta, de misturar o melado e de transformar a maravilha em sobremesa e atividade rentável para a comunidade. Não há registros de onde o doce advém, mas nos conforta e satisfaz saber que veio das mães, assim o é aprendido oralmente


Na montagem do barracão de palha, a lona serve para não deixar a chuva passar. É mais uma atividade cuja a comum unidade, interpretada como fazer junto, é fato característico da identidade quilombola. 


Acompanhei sete dias de intensa preparação para a festa. A noite, a prazerosa congregação da irmandade. Como reunião brasileira, bem acontece envolta de comida e uma cerveja. 


A montagem do segundo barracão do terreiro da Dona Dete. Esse de palha como a família prefere e o calor que faz nas Furnas permite.


A cobertura de telha do primeiro barração do terreiro que protege os tachos onde é feito a comida e os doces


Sabedoria antiga e serenidade na caótica preparação




Toda a preparação para transformar a celebração de Nossa Senhora em uma grande festividade. Vários episódios de ritos aconteceram durante a semana, todavia o climax se dá na grande festa no dia 12 de outubro. 

Inicia-se as homenagens na cavalgada. Antigo e simbólico, o ato de cruzar as Furnas a cavalo é para mostrar a fé e persistência daqueles que crê. A cavalgada retorna pra Dona Dete, encontrando outros fiéis que carregam o andor. Era hora de levar a Santa para capela que lhe pertence, casa construída pelos quilombolas. 


A começar a cavalgada 




O transitar junto por uma crença comum fortalece os laços da irmandade católica


Atravessar o rio 


Carregada de Nossa Senhora Aparecida no trajeto para a capela


A padroeira é esperada na capela para a missa, com muitas pessoas na pequena capela. A missa acompanhou o almoço servido pela comunidade a todos fiéis, a compartilhar da crença e promessa da Dona Dete. 

Chegada do andor para a missa na capela


O padre a rezar a missa. É a presença da instituição Igreja Católica na celebração no quilombo



Ofertório


A usar a cobertura do barracão para proteger do sol e assistir a missa


No barracão coberto de telha, cozinhavam e serviam o almoço

Acompanhei os preparativos e a festa. Estar entre a irmandade me fez perceber o real sentido de comunidade. Em meio a celebração, a comunidade tornou-se pública. Um catolicismo intenso que desmembra na vivencia quilombola. 

Por Yasmin Falcão

Inserção na Prática da Escola Quilombola Antônio Delfino Pereira: Primeiros Passos

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