terça-feira, 8 de novembro de 2011

2ª enquete do Baobá do Cerrado: África pobre?

Nossa equipe quer saber de nossos leitores se eles concordam que a África é um continente pobre. E se, concordam, quais seriam os motivos? Poste sua resposta e não deixe de se identificar.
Axé!

Lourival

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Ter paciência é algo que me falta, mas que eu to caminhando para conquistar

Meu nome é Josi, tenho 18 anos e estudo no 1º ano do Ensino Médio na escola João Dantas Filgueiras.
Eu sou nascida aqui em Três Lagoas, venho de uma família legal, sou filha de um guarda municipal e de uma dona de casa, que faz artesanato de crochê e tapetes para vender e tenho uma irmã de 10 anos, que estuda no 5º ano. Nós duas temos umas briguinhas às vezes, pois ela é a caçula e a atenção em casa vai sempre para ela e eu fico com ciúmes, mas a gente supera.
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Na verdade o meu pai não é muito presente, ele está em casa todos os dias, mas o contato com a gente é meio distante, quando eu era menor sentia falta dele, porque os pais dos meus amigos são presentes, unidos, mas hoje eu já não ligo mais, contornei essa situação.
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Meu relacionamento na escola é meio complicado, ainda mais que com os meus amigos eu sou extrovertida, mas ao mesmo tempo consigo ser ciumenta, nervosa, autoritária e isso complica a situação. Principalmente porque eu tenho muito ciúmes da Lígia que é minha melhor amiga.
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Me apeguei muito na Lígia porque na sala eu e a mais uma menina, somos as únicas evangélicas e por isso tem um pessoal da sala que faz umas brincadeiras preconceituosas na sala, o que faz com que eu não converse muito com as outras pessoas das salas.
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A religião é o fator principal na minha vida, lá eu aprendo muita coisa, principalmente a ter paciência, que é algo que me falta, mas que eu to caminhando para conquistar, para poder conviver em grupo.
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Eu já tive vários problemas por ser negra, principalmente na escola. Quando eu vim estudar no João Dantas, eu estava no 5º ano, percebi que tinha umas pessoas que eram da minha cor, mas que as populares eram brancas e ninguém nunca reparava nisso. Outra coisa que aconteceu é que essas pessoas colocavam apelidinhos em mim, uns apelidos que eu nem consigo mais lembrar. Esses apelidos só pararam quando os meus pais vieram aqui na escola, porque eu não conseguia estudar direito. Tive que ir conversar com a diretora, que puniu os meninos que me apelidavam na época.

            Normalmente eu nunca tive muitos problemas por ser negra, só quando eu era menor, porque a minha mãe é mais clara, ela não é branca , é mais puxada para o amarelo. O meu pai quem é negro, assim como eu. Minha irmã puxou mais para a cor da minha mãe. Por eu e meu pai sermos os únicos negros lá de casa, ele costumava dizes que eu era a filha bastarda dele. Por isso eu não gostava muito da minha cor não, mas hoje eu já me acostumei. Tanto que meus problemas com autoestima são mais pelo meu peso, a minha cor não me incomoda mais.
Ser negra deixou a minha infância um pouco conturbada, porque na família da minha mãe são todos brancos. Minha avó teve 6 filhos e minha mãe é a única mulher e casada com um negro. Os meus primos são todos brancos, tem até alguns de olhos verdes, ou seja, eu sou a única neta da minha avó negra, por isso meus primos tiravam muito sarro em mim.
           Acho que o pior nessa época era que minha mãe trabalhava muito para ajudar o meu pai a terminar de construir a nossa casa, ela só estava comigo durante o jantar e não me dava muita atenção, o meu pai também trabalhava até a noite, então eu passava muito tempo com a minha avó. Acho que na minha vida a minha mãe teve papel de pai e minha avó de mãe. Na minha infância eu brinquei bastante, fiz arte, mas faltou algo.
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          Eu não ligo muito para os apelidos que tenho por causa de minha cor, claro que se forem pessoas que eu conheço ou que eu perceba que me chamam assim, sem a intenção de me provocar. Tem um amigo aqui da escola que ele me chama de “aviãozão”, “nega”, “morena”, o pai desse meu amigo me chama de “preta”, “pretinha” ou “Josi mocoronga”, mas é na brincadeira. Meu namorado também me chama de “pretinha”. Eu tenho um tio que por causa do meu peso me chama de “tutão” ou “pejo” por que é o nome de um carro que tem um amortecedor largo. Eu não ligo para esses apelidos até porque acho o meu nome complicado, eu gosto mesmo que me chamem de Josi ou de Jô. Mas se é uma pessoa estranha me chamando por esses apelidos eu vou achar estranho.
            [...]
Durante minha vida escolar eu reprovei 3 anos. A primeira vez assim que eu entrei na escola, depois no 7º e no 9º e todas às vezes foi por causa da matemática. Não me dou bem com matérias exatas, as que mais gosto são Língua portuguesa, Literatura, Inglês e Geografia. História eu até gosto, mas depende muito da história, se não eu não gosto.   
          O meu primeiro dia de aula no João Dantas eu briguei. Quando eu cheguei na sala já me irritei porque não tinha carteira na frente, só no fundo e eu odeio sentar no fundo, porque eu já converso demais, se sento lá no fundo não preto atenção em nada, além do mais, as piores companhias estão sentadas no fundão. Outra coisa que me incomodou é que o pessoal na sala já tinha seus grupos fechados, é bem aquela coisa de filme, ter lugar para sentar até tem, mas parece que ninguém quer você ali.
          [...] Na saída para o intervalo, como de costume, todo mundo fica grudado na porta. Quando eu fui tentar passar uma menina me fechou e eu a empurrei tão forte que ela acabou batendo com a cabeça. Ela ficou brava e disse que ia me bater, como não sou de levar desaforo para casa, falei para ela me bater ali mesmo. Ao entrar no banheiro, essa menina chegou puxando o meu cabelo, não teve jeito nós começamos a brigar.
Essa menina é bem branquinha e durante a briga ela me chamava de preta e outras coisas que me ofendiam por causa da minha cor, isso me deixou com mais raiva ai que eu batia mais, acabei até quebrando o nariz dela. Por essa briga eu quase fui expulsa da escola no meu primeiro dia de aula, isso só não aconteceu porque minha mãe me defendeu. Só sei que essa história da briga deu até polícia, porque a mãe da menina era barraqueira e queria bater na minha mãe, mas no fim deu tudo certo.
[...]

Inserção na Prática da Escola Quilombola Antônio Delfino Pereira: Primeiros Passos

Alunos e alunas do 1º Ano "A" e "B" assistindo o filme do "Kiriku e a Feiticeira". Em resposta as ações...